sábado, 21 de maio de 2022

OS MORTOS SAIRÃO DOS TÚMULOS - Revista Espírita 1868 » Fevereiro » Instruções dos Espíritos » Os mortos sairão dos túmulos


1. ─ Povos, escutai!... Uma grande voz se faz ouvir de um extremo a outro dos mundos; é a do precursor, anunciando a vinda do Espírito de Verdade, que vem endireitar as vias tortuosas por onde o espírito humano se desgarrava em falsos sofismas. É a trombeta do anjo que vem despertar os mortos para que saiam de seus túmulos.

Muitas vezes tendes lido a revelação de João e vos perguntastes: Mas, o que quer ele dizer? Como, então, cumprir-se-ão essas coisas surpreendentes? E vossa razão confusa, mergulhava num tenebroso dédalo de onde ela não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava expresso em sentido figurado.

Agora que chegou o tempo em que uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendeis a ler nesse livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado ver. Entretanto, as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.

Compreendei apenas que se Deus permite que o véu seja levantado mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que, pioneiros infatigáveis, eles desbravem as terras incultas. É, enfim, para que eles fecundem com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.

Ah! Quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa permanente em que as distrações e os prazeres se sucedem sem interrupção! Eles inventam mil nadas para encantar os seus lazeres; eles cultivam o seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer destacar a sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras que refletem as cores do prisma e balançando no espaço atraem os olhares por algum tempo, depois as procurais... e elas desapareceram sem deixar traços. Assim, essas almas mundanas brilharam com uma luz de empréstimo, durante sua curta passagem terrestre, e dela nada restou de útil, nem para os seus seme­lhantes, nem para elas próprias.

Vós que conheceis o valor do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso instrumentos dóceis servindo para levar a luz e a fecundidade a essas almas, das quais se diz: “Têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam”, porque tendo-se desviado do facho da verdade, e tendo escutado a voz das paixões, sua luz não é senão trevas, em meio às quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar para Deus.

O Espiritismo é essa voz poderosa que já repercute até as extremidades da Terra; todos a escutarão. Felizes aqueles que, não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de seus túmulos, e daí por diante realizarão os atos da verdadeira vida, a do Espírito, desembaraçando-se dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sepulcro, à voz do Salvador.

O Espiritismo marca a hora solene do despertamento das inteligências que usaram de seu livre-arbítrio para se demorar nos caminhos pantanosos cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento que lhe dá a aparência da morte. O Pai celeste tem misericórdia desses filhos pródigos, caídos tão baixo que nem mesmo pensam na morada paterna, e é para eles que ele permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que além deste mundo das formas perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.

Possam esses pobres escravos da matéria sacudir o torpor que os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sin­ceridade, para que a luz divina, penetrando-lhes a alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.

 

JOÃO EVANGELISTA

(Paris, 1866)

 

OS ESPÍRITOS MARCADOS - Revista Espírita 1868 » Fevereiro » Instruções dos Espíritos » Os Espíritos marcados - Messias

 5. ─ Há muitos Espíritos superiores que concorrerão poderosamente à obra reorganizadora, mas nem todos são messias. Há que distinguir:

1.º ─ Os Espíritos superiores que agem livremente e por sua própria vontade;

2.º ─ Os Espíritos marcados, isto é, designados para uma importante missão. Eles têm a radiação luminosa que é o signo característico de sua superioridade. São escolhidos entre os Espíritos capazes de cumpri-las; entretanto, como têm livre-arbítrio, podem falir por falta de coragem, de perseverança ou de fé, e não estão ao abrigo dos acidentes que podem abreviar os seus dias, mas como os desígnios de Deus não estão à mercê de um homem, o que um não faz, outro é chamado a fazer. Eis por que há muitos chamados e poucos escolhidos. Feliz aquele que realiza sua missão segundo as vistas de Deus e sem desfalecimentos!

3.º ─ Os Messias, seres superiores que chegaram ao mais alto degrau da hierarquia celeste, depois de haverem atingido uma perfeição que os torna infalíveis daí por diante, e acima das fraquezas huma­nas, mesmo na encarnação. Admitidos nos conselhos do Altíssimo, eles recebem diretamente a sua palavra, que são encarregados de transmitir e fazer cumprir. Verdadeiros representantes da Divindade, cujo pensamento eles têm, é entre eles que Deus escolhe os seus enviados especiais, ou seus Messias para as grandes missões gerais, cujos detalhes de execução são confiados a outros Espíritos encarnados ou desencarnados que agem por suas ordens e sob sua inspiração.

Espíritos dessas três categorias devem concorrer no grande movimento regenerador que se opera.

(Êxtase sonambúlico; Paris, 1866)

 

6. ─ Meus amigos, venho confirmar a esperança dos altos destinos que esperam o Espiritismo. Esse glorioso futuro que vos anunciamos será realizado pela vinda de um Espírito superior que resumirá, na essência de sua perfeição, todas as doutrinas antigas e novas e que, pela autoridade de sua palavra, religará os homens às crenças novas. Semelhante ao sol nascente, ele dissipará todas as obscuridades amontoadas sobre a eterna verdade pelo fanatismo e pela inobservância dos preceitos do Cristo.

A estrela da nova crença, o futuro Messias, cresce na sombra, mas já os seus inimigos tremem, e as virtudes dos céus estão abaladas.

Perguntais se esse novo Messias é a mesma pessoa de Jesus de Nazaré. Que vos importa, se é o mesmo pensamento que os anima a ambos? São as imperfeições que dividem os Espíritos, mas quando as perfeições são iguais, nada os distingue; eles formam unidades coletivas, sem perder a sua individualidade.

O começo de todas as coisas é obscuro e vulgar; o que é pequeno cresce; nossas manifestações, a princípio acolhidas com o desdém, a violência ou a indiferença banal da curiosidade ociosa, espalharão ondas de luz sobre os cegos e os regenerarão.

Todos os grandes acontecimentos têm tido os seus profetas, ora incensados, ora ignorados. Assim como Moisés conduzia os hebreus, nós vos conduziremos para a Terra prometida da inteligência.

Similitude chocante! Os mesmos fenômenos se produzem, não mais no sentido material, destinado a ferir os homens infantis, mas na sua acepção espiritual. As crianças tornaram-se adultos; crescendo o objetivo, os exemplos não mais se dirigem aos olhos; a vara de Aarão está quebrada, e a única transformação que operamos é a de vossos corações que se tornaram atentos ao grito de amor que, do Céu, repercute na Terra.

Espíritas! Compreendei a gravidade de vossa missão; estremecei de alegria, porque não está longe a hora em que o divino enviado alegrará o mundo. Espíritas laboriosos, sede abençoados por vossos esforços e sede perdoados por vossos erros. A ignorância e a perturbação ainda vos roubam uma parte da verdade que só o celeste Mensageiro vos pode revelar por inteiro.

SÃO LUÍS.

(Paris, 1862)

 

7. ─ A vinda do Cristo trouxe para vossa Terra sentimentos que por um instante a submeteram à vontade de Deus, mas os homens, enceguecidos por suas paixões, não puderam guardar no coração o amor ao próximo, o amor ao Mestre do Céu. O enviado do Todo-Poderoso abriu à Humanidade a rota que conduz ao repouso bem-aventurado, mas a Humanidade recuou um passo imenso que o Cristo a tinha feito dar; caiu no carreiro do egoísmo, e o orgulho a fez esquecer o seu Criador.

Deus permite que ainda uma vez sua palavra seja pregada na Terra, e tereis que glorificá-lo, porque ele quis chamar-vos, como primeiros, a crer no que mais tarde será ensinado. Rejubilai-vos, porque estão próximos os tempos em que essa palavra far-se-á ouvir. Melhorai-vos, aproveitando os ensinamentos que ele permite que vos demos.

Que a árvore da fé, que neste momento fixa raízes tão vivazes, produza os seus frutos; que esses frutos amadureçam, como amadurecerá a fé que hoje anima alguns entre vós!

Sim, meus filhos, o povo comprimir-se-á sobre os passos do novo mensageiro anunciado pelo próprio Cristo, e todos virão escutar essa divina palavra, porque nela encontrarão a linguagem da verdade e o caminho da salvação. Deus, que permitiu que vos esclarecêssemos e que sustentássemos vossa marcha até hoje, permitirá que novamente vos demos as instruções que vos são necessárias.

Mas também vós, os primeiros favorecidos pela crença, tendes vossa missão a cumprir; tereis que trazer aqueles dentre vós que ainda duvidam das manifestações que Deus permite; tereis que fazer luzir aos seus olhos os benefícios daquilo que tanto vos consolou. Nos vossos dias de tristeza e abatimento, vossa crença não vos sustentou? Não fez nascer em vosso coração essa esperança que, sem ela, teríeis ficado no desencorajamento?

Eis o que é preciso fazer partilhar os que ainda não creem, não por uma precipitação intempestiva, mas com prudência e sem chocar de frente os preconceitos longamente arraigados. Não se arranca uma velha árvore de um só golpe, como um broto de erva, mas pouco a pouco.

Semeai desde já o que mais tarde quereis colher; semeai o grão que virá frutificar no terreno que tiverdes preparado, e cujos frutos vós mesmos colhereis, porque Deus levará em conta o que tiverdes feito por vossos irmãos.

LAMENNAIS.

(Havre, 1862