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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
O ESPIRITISMO ESTÁ ULTRAPASSADO - COM Alexandre Fontes da Fonseca
Alexandre Fontes da Fonseca
Alexandre Fontes da Fonseca é professor de Física na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", em Bauru-SP.
Nos últimos anos, o número de espíritas cresceu a uma taxa pouco acima da do crescimento da população brasileira, conforme apontam pesquisas recentes do IBGE [1,2]. Essa notícia, sem dúvida, demonstra o bom andamento das atividades de divulgação do Espiritismo, e estimula a continuidade e aprimoramento das mesmas.
Certamente, os avanços da tecnologia de armazenamento e divulgação de informação contribuíram para esse crescimento, o que nos mostra a responsabilidade que temos em nos instruirmos conforme orientação do Espírito de Verdade (item V do Cap. VI de O Evangelho segundo o Espiritismo [3]).
Entretanto, o mesmo progresso que facilita o acesso às obras e aos estudos espíritas também tem permitido o acesso a informações e estudos de teor moral e intelectual questionáveis e inseguros. No caso do movimento espírita, a facilidade de divulgar ideias e doutrinas espiritualistas próprias, e a de acessá-las, têm levado algumas pessoas a questionar o Espiritismo, propondo ao movimento espírita a adoção de práticas espiritualistas diferentes e alternativas em nome da modernidade. Em alguns casos, o próprio conhecimento científico tem sido invocado como razão suficiente para propor desde inovações na prática mediúnica até alterações na própria Doutrina Espírita, sob alegações de que seus conceitos estariam ultrapassados.
Alguns dizem que por causa do comentário de Kardec (item 55 de A Gênese [4]) de que “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”, tais novidades deveriam ser aceitas sem questionamento pois que afinal são “verdades novas que se revelam”. Porém, o que está de fato acontecendo é que muitos companheiros espíritas, seduzidos por um discurso de atualidade de doutrinas e práticas alternativas e, principalmente, por não terem conhecimento profundo de teorias modernas da Ciência para avaliar essas mesmas doutrinas, estão cedendo ao apelo de se questionar a validade do Espiritismo na descrição da realidade espiritual.
O receio que decorre da ignorância sobre o que é CiênciaComo analisado por nós anteriormente [5], “o receio de a Ciência encontrar erros no Espiritismo se reflete na preocupação exagerada em vê-lo confirmado por ela ou relacionado às novidades científicas como, por exemplo, na ênfase dada a teorias e práticas espiritualistas baseadas na Física Quântica”. Esse receio, que decorre da ignorância sobre o que é Ciência e como ela se desenvolve, abriu uma brecha no movimento espírita: a possibilidade de se introduzir novas práticas usando termos e conceitos desconhecidos dos espíritas. Como consequência, erros graves podem ocorrer como no exemplo da proposta de atualização da resposta dada pelos Espíritos à questão número 34 de O Livro dos Espíritos [6] que, segundo alguns, estaria errada do ponto de vista da Física e da Química. Porém, o erro desta crítica estava na falta de conhecimento da Física que permite justamente demonstrar que a resposta dos Espíritos à questão 34 do L.E. está completamente correta (ver artigo da ref. [7]). (*)
Se “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade” (Kardec, item 7 do Cap. XIX de O Evangelho segundo o Espiritismo [3]), como encarar críticas ao Espiritismo e propostas espiritualistas que usam conceitos da Ciência se poucos têm condições de avaliá-los? Como encarar a razão dos que dizem que o Espiritismo está ultrapassado? Essas são questões importantes e é oportuno observar que tanto no passado, quanto no presente, a espiritualidade tem demonstrado preocupação com alterações ou inovações indevidas no Espiritismo:
“A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe à ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote à filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre à religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces em que se nos levanta a organização.” (“Unificação”, mensagem de Bezerra de Menezes recebida por D. P. Franco em 20-04-1963 [8]. Grifos em negrito do autor).
Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação?
“A programação que estabelecestes para este quinquênio é bem significativa, porque verteu do Alto, onde se encontrava elaborada, e vós vestistes-a com as considerações hábeis e aplicáveis a esta atualidade. Este é o grande momento, filhos da alma. Não tergiverseis, deixando-vos seduzir pelo canto das sereias da ilusão. Fidelidade à doutrina é o que se nos impõe, celebrando os cento e cinquenta anos da obra básica da Codificação Espírita. Não permitais que adições esdrúxulas sejam colocadas em forma de apêndices que desviem os menos esclarecidos dos objetivos essenciais da doutrina. (...) Sede fiéis, permanecendo profundamente vinculados ao espírito do Espiritismo como o recebestes dos imortais através do preclaro Codificador.” (“O Meio-Dia da Nova Era”, mensagem de Bezerra de Menezes recebida por D. P. Franco em 12-04-2007 [9]. Grifos em negrito do autor).
“Esses tempos atuais chamam-nos à fidelidade aos projetos do Espírito de Verdade, para que estejamos atentos a fim de que não abandonemos o trabalho genuinamente espiritista, passando a ocupar valioso tempo com palavrórios e disputas, situações e questões que, declaradamente, nada tenham a ver com a nossa Causa, por não serem da alçada do Espiritismo.” (“Definição e trabalho em tempos difíceis”, mensagem de Camilo recebida por Raul Teixeira em 11-11-2005 [10]. Grifos em negrito do autor).
Conforta-nos saber que Kardec não se esqueceu de analisar a importante questão da validade da Doutrina Espírita. No item 1 do Cap. 1 de A Gênese [4], Kardec lista questões fundamentais para o fortalecimento da fé espírita: “Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação?”, “Neste caso, qual o seu caráter?”, “Em que se funda sua autenticidade?”, “A quem e de que maneira foi ela feita?”, e outras. Essas questões demonstram o cuidado de Kardec em munir o espírita de razões sólidas para assegurar a integridade do Espiritismo e orientar a condução do seu aspecto progressivo. Se não soubermos qual o caráter do Espiritismo, seus valores, suas bases, e os critérios utilizados na codificação, dificilmente saberemos nos posicionar perante as novidades que se apresentam na atualidade.
O Espiritismo é a única doutrina que possui duplo caráterO leitor encontrará em A Gênese [4] as respostas de Kardec a essas questões. Aqui, desejamos apenas destacar um detalhe muito importante que nos permite responder à pergunta título deste artigo: “Estaria o Espiritismo ultrapassado? ... Ou muito na frente?” Esse detalhe irá certamente contribuir para a nossa segurança em preservar a Doutrina Espírita conforme nos pedem Bezerra e Camilo. Mostraremos ao leitor que o Espiritismo, na verdade, como revelação, está à frente dos avanços de nosso tempo e não ultrapassado, como alguns acreditam.
Este detalhe, como já ressaltado em artigos anteriores [11,12], consiste da constatação de que o Espiritismo é a única doutrina ou teoria do conhecimento humano que possui duplo caráter de uma revelação! O “duplo” significa “dois tipos” possíveis: o caráter divino e o caráter científico de uma revelação. A codificação do Espiritismo ocorreu através de ambos, e o leitor é remetido ao item 13 de A Gênese [4] para verificar a explicação de Kardec.
O caráter divino da revelação espírita decorre do fato de os conceitos fundamentais do Espiritismo serem oriundos da revelação dos Espíritos. O caráter científico decorre do fato de que, como meio de elaboração (Kardec, item 14 de [4]), “o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental”.
Como, em pleno século 21, não há doutrina ou teoria sequer que tenha o duplo caráter de uma revelação, podemos concluir que o Espiritismo é uma doutrina inédita e ao mesmo tempo única na história da humanidade! As teorias científicas e filosóficas possuem apenas o caráter científico de uma revelação, enquanto que todas as obras de natureza mediúnica possuem apenas o caráter divino de uma revelação.
Isso também nos leva a concluir com segurança que por mais que se reconheça o valor moral, literário e científico das obras psicografadas por médiuns exemplares como Francisco C. Xavier, Divaldo P. Franco, José Raul Teixeira, e muitos outros, essas obras não podem formar uma doutrina com o mesmo valor e caráter de revelação que o Espiritismo possui. Isso porque são elas apenas revelações de caráter divino.
Como o progresso do Espiritismo deverá processar-se?O fato de algumas obras possuírem conteúdos científicos não é razão para considerarmo-las como tendo caráter científico de uma revelação, pois que esse caráter decorre da metodologia de pesquisa e descobrimento das novas ideias e não do tipo de novas ideias.
Assim, o Espiritismo, mesmo tendo sido codificado há século e meio atrás, demonstra estar, na verdade, ainda na frente de todas essas doutrinas, teorias e propostas espiritualistas, tanto de encarnados quanto desencarnados. Mesmo as doutrinas que se baseiam em conceitos considerados modernos não estão à frente do Espiritismo, por lhes faltarem desenvolvimento em um dos dois tipos de caráter. E, é importante dizer, essa característica única do Espiritismo não significa que ele não irá progredir. Porém, o progresso do Espiritismo deverá ocorrer respeitando-se o duplo caráter de uma revelação, isto é, deverá ocorrer através do estudo e da pesquisa sérias, aliado ao apoio da espiritualidade através do consenso universal. Portanto, não será meramente aceitando conceitos que não sabemos avaliar, mas que parecem modernos, que devemos incentivar alterações ou inserções no Espiritismo; não será nem com mensagens que aparentam elevação, nem com comparações superficiais com conceitos da Ciência, que novas práticas espiritualistas devem ser aceitas no movimento espírita. Quando não tivermos conhecimento bastante para avaliar uma novidade, seja ela proposta por encarnado ou por desencarnado, devemos seguir a recomendação de Erasto (item 230 de O Livro dos Médiuns [13]): “É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”Percebemos, agora, o alcance e a sabedoria dessas palavras na defesa do movimento espírita e do Espiritismo. Não foi à toa que o Espírito de Verdade nos orientou a estudar com mais profundidade o Espiritismo.
Nota:(*) A questão 34 d´O Livro dos Espíritos diz o seguinte:
34. As moléculas têm forma determinada? “Certamente, as moléculas têm uma forma, porém não sois capazes de apreciá-la.”
a) — Essa forma é constante ou variável? “Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que chamais molécula longe ainda está da molécula elementar.”
Referências:
[1] http://oglobo.globo.com/infograficos/censo-religiao/ acessado em 5 de Julho de 2012.
[2] http://estadaodados.com/html/religiao/ acessado em 5 de Julho de 2012.
[3] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112ª Edição, Rio de Janeiro (1996).
[4] A. Kardec, A Gênese, FEB, 34ª Edição, Rio de Janeiro, (1991).
[5] A. F. da Fonseca, “O “Medo” da Ciência e a Atualização do Espiritismo: Parte I”, Reformador Julho, p. 18 (2011).
[6] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Ed. FEB, 1ª Edição, Rio de Janeiro (2006).
[7] A. F. da Fonseca, “A Física Quântica e as questões 34 e 34-a de O Livro dos Espíritos”, Reformador Dezembro, p. 14 (2008).
[8] D. P. Franco, pelo Espírito Bezerra de Menezes, “Unificação”, mensagem recebida em 20-04-1963 em Uberaba e publicada em Reformador Dezembro (1975).
[9] D. P. Franco, pelo Espírito Bezerra de Menezes, “O Meio-Dia da Nova Era”, mensagem recebida em 12-04-2007 em Brasília e publicada em Reformador Junho (2007).
[10] J. R. Teixeira, pelo Espírito Camilo, “Definição e trabalho em tempos difíceis”, mensagem recebida em 11-11-2005 em Brasília e publicada em Reformador Janeiro (2006).
[11] A. F. da Fonseca, “A Revelação Espírita”, Reformador Abril, p. 36 (2011).
[12] A. F. da Fonseca, “Espiritismo: único conhecimento humano que tem o duplo caráter de uma Revelação!” O Consolador 209 (2011). Link para o artigo: http://www.oconsolador.com.br/ano5/209/alexandre_fonseca.html acessado em 1º de Julho de 2012.
[13] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Ed. FEB, 1ª Edição, Rio de Janeiro (2008).
Atualizar Kardec?!
junho/2018 - Por Rogério CoelhoCerta vez, Francisco Cândido Xavier falou que a única coisa que, realmente, o deixava triste era quando alguém dizia que não acreditava em Deus. (No que estamos plenamente de acordo).
Existe outra questão que me deixa não só triste, mas profundamente indignado: é quando alguém que se diz espírita afirma que Kardec precisa ser atualizado. Tal atitude denota extrema ingratidão…
Existem inúmeros verbos que podem ser colocados antes do nome de Kardec: ler Kardec; conhecer Kardec; estudar Kardec; refletir Kardec; entender Kardec; divulgar Kardec; amar Kardec; abençoar Kardec; admirar Kardec; louvar Kardec; elogiar Kardec; meditar Kardec; bendizer Kardec; aprender com Kardec; fazer como Kardec, pensar como Kardec; agradecer a Kardec, mas atualizar Kardec?! Jamais!
Temos que ser um com Kardec assim como Jesus é um com o Pai Celestial.
Vez por outra, temos surpreendido companheiros invigilantes, repetindo informações de estudiosos que afirmam que Kardec está ultrapassado, por terem seus pensamentos e orientações completado um século e meio de existência, e de lá para cá tudo se modernizou, e que a era pós-Kardec trouxe novos conceitos, novas revelações, veiculadas por Espíritos e médiuns confiáveis.
Na verdade, o Espírito humano, indócil por natureza e ávido por novidades, está sempre engendrando e articulando. Mas, em matéria de Espiritismo, tudo está contido nas Obras Básicas de Allan Kardec e tal deve ser o eixo de toda e qualquer elucubração espiritista. Portanto, qualquer novidade que surja, fora do contexto doutrinário, não tem o aval da Codificação.
Kardec nunca esteve e não está ultrapassado. Está, sim, atropelado pela insolência e leviandade de pseudoespíritas que, no dizer de Herculano Pires, são presunçosos demais e estudiosos de menos. Esses, geralmente, endossam suas teses absurdas com a afirmativa do próprio mestre lionês que disse: Se a Ciência provar que o Espiritismo está em erro em algum ponto, ele se modificará nesse ponto.
Acontece que, até hoje, a Ciência não tem feito outra coisa senão confirmar os postulados espíritas, ratificando, portanto as informações contidas na Codificação. Vejamos um exemplo disso: dois pesquisadores norte-americanos, Kevin Zahnle e David Grispoon afirmaram que partículas de pó biológico carreadas pelos cometas, suficientemente pequenas para atravessar a atmosfera terrestre sem se aquecerem, explicariam a presença de aminoácidos encontrados em camadas geológicas muito antigas na Dinamarca.
Segundo análise da NASA, Agência Espacial Americana, a poeira dos cometas é rica em carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, substâncias que formam as moléculas dos seres vivos. Recentes descobertas reforçam a teoria de que a vida terrestre surgiu a partir de moléculas trazidas pelos cometas, confirmando antigas proposições de que semelhantes astros teriam atravessado o Sistema Solar deixando um rastro de poeira carregado de moléculas orgânicas. Essas substâncias teriam sido atraídas para a atmosfera do nosso planeta e tomado parte em reações químicas que propiciaram o surgimento dos primeiros seres vivos. Não fica muito difícil entender essa espécie de polinização cósmica se a compararmos com a de nossos vegetais.
No livro A Gênese – os milagres e as predições segundo o Espiritismo, capítulo IX, Allan Kardec esclarecia (em 1868), que estava perfeitamente tranquilo com relação à influência que os cometas exercem, pois são destinados a reabastecer os mundos, trazendo-lhes os princípios vitais que armazenaram em sua corrida pelo espaço e aproximação dos sóis.
Como se vê, fazendo uma prova cruzada entre as modernas descobertas da Ciência e os postulados Kardequianos, concluímos que o mestre lionês está tão atual hoje como esteve desde os meados do século XIX. Por outro lado Jesus afirmou[1]: E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.
Ora, como poderia ficar démodé (ultrapassado, fora de moda) algo que, segundo afirmação do Mestre Maior, estará para sempre conosco?! A verdade é uma só em todos os tempos, e não falece dúvida de que o Consolador prometido por Jesus é o Espiritismo. Então, como poderia estar ultrapassado?
O trabalho de construção da Codificação foi exaustivo, detalhado, minucioso, demorado, suado, confirmado e reconfirmado. Custou ao Codificador anos seguidos de noites insones esmiuçando, revendo, refazendo, conferindo… E agora vem alguém dizendo que isso e aquilo precisa ser revisto?
Deolindo Amorim dizia que Herculano Pires jamais aceitou a ideia de que a Codificação Espírita estivesse superada. Nossa afinidade, nesta posição, era completa, afirmava.
Aí está o pensamento coerente e definitivo de dois imbatíveis luminares das letras espíritas. Quem há de discordar?
Não sem motivos, o nobre Espírito Vianna de Carvalho – enternecido – tece loas e justos agradecimentos a Kardec através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco[2]: (…) recordando o ínclito Codificador Allan Kardec, que abriu a cortina da Nova Era com o seu caráter invulgar de homem de bem, de erudição e de dignidade, nós, os Espíritos-espíritas agradecemos a sua contribuição e valor, por haver sido o excelente instrumento do Mundo espiritual para a Humanidade no momento mais grave do pensamento histórico de todos os tempos.
Para esclarecimentos mais detalhados e sedimentações doutrinárias recomendamos a leitura do livro, publicado em parceria com Orson Peter Carrara: Ontem e hoje com Kardec, sempre atual, ed. Mythos Book, no qual poderemos nos deleitar com a impressionante clareza e sábias argumentações do notável mestre de Lyon.
Referências:
- BÍBLIA, N. T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 14, vers. 16.
2.FRANCO, Divaldo Pereira. Espiritismo e vida. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador: LEAL, 2009. cap. 2.
sábado, 2 de janeiro de 2021
CARACTERÍSTERÍSTICA DO MUNDO DE TRANSIÇÃO
https://www.vademecumespirita.com.br/regeneracao+da+humanidade.aspx
Destaque desse texto:
E, como se a destruição não caminhasse suficientemente rápida, se verá os suicídios se multiplicarem em uma proporção inédita, até entre as crianças. A loucura atingirá como nunca um número muito grande de homens que, mesmo antes da morte, estarão eliminados do mundo dos vivos. Esses são os verdadeiros sinais dos tempos. E tudo se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como dissemos, sem que nada transgrida as leis da Natureza.
Regeneração da Humanidade
Regeneração da Humanidade
Da obra Obras Póstumas - Segunda Parte página 321
Os acontecimentos se precipitam com rapidez. Já não dizemos mais ?os tempos estão próximos?. Falamos agora: ?os tempos chegaram?.
Não entendam nessas palavras a perspectiva de um novo dilúvio, nem um cataclismo, nem uma perturbação geral. Convulsões parciais do globo aconteceram em todas as épocas e ainda se produzem, porque fazem parte de sua constituição e não são os sinais.
Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho deve se cumprir e se cumpre neste momento, como mais tarde vocês reconhecerão. Mas tomem os sinais anunciados como figuras, das quais é preciso apreender o espírito e não ao pé da letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades, sob o véu da alegoria. Os comentadores se prendem à letra, por isso se enganam. Faltou-lhes a chave para compreender o sentido verdadeiro. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo acaba de nos revelar. De agora em diante, com a ajuda desses novos conhecimentos, o que era obscuro torna-se claro e inteligível.
Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não se verão nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural, no sentido comum que se dá a essas palavras.
Não olhem para céu, à procura de sinais precursores, porque não verão nada. E aqueles que lhe disserem que sim, estarão iludindo-os. Mas olhem em torno de vocês, entre os homens, é aí que encontrarão os sinais.
Vocês não sentem uma espécie de vento que sopra sobre a Terra e agita os Espíritos? O mundo está em espera, como que preso a um vago pressentimento da aproximação de uma tempestade.
Entretanto, não acreditem no fim do mundo material. A Terra progrediu, a partir de sua transformação, deve progredir ainda mais e de forma alguma ser destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
Então, não é o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral: é o velho mundo, o dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que desmorona. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo acabará com a geração que se vai, e a nova levantará o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão.
De mundo de expiação, a Terra será chamada a se tornar um dia um mundo feliz e habitá-la será uma recompensa, em vez de ser uma punição. Aqui, o reino do bem deve suceder o reino do mal.
Para que os homens sejam felizes na Terra, é preciso que ela seja povoada por bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que só desejam o bem. Quando chegar esse tempo, uma grande emigração se fará entre os que a habitam. Aqueles que praticam o mal pelo mal e não são tocados pelo sentimento do bem serão indignos da Terra transformada e serão excluídos, porque trariam de novo para cá o engano e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Expiarão seu endurecimento em mundos inferiores, para onde levarão seus conhecimentos e terão como missão fazer esses mundos avançarem. Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão reinar a justiça, a paz, a fraternidade.
A Terra, já dissemos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilará de repente uma geração. A geração atual desaparece gradualmente e a nova a sucederá da mesma forma, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas. Então, tudo acontecerá aparentemente como sempre, com uma única diferença, mas que é capital: uma parte dos Espíritos que encarnam aqui não encarnará mais. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado, com tendência para o mal, virá um Espírito mais avançado e com tendência ao bem. Trata-se, então, mais de uma nova geração de Espíritos do que de uma geração corporal. Assim, aqueles que esperavam ver a transformação se operar por efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados.
A época atual é de transição. Os elementos das duas gerações já se misturam. Quem estiver de fora assistirá à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já está assinalada no mundo pelas características que lhes são próprias.
As duas gerações que se sucedem têm ideias e pontos de vista opostos. Pelas disposições morais, mas, sobretudo, pelas intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.
A nova geração deve fundar a era do progresso moral e se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, reunindo ao sentido inato do bem crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas por aqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a ajudar o movimento regenerador.
Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, antes de tudo, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de todo poder superior à Humanidade. Depois, é a propensão instintiva para as paixões degradantes, pelos sentimentos antifraternais de orgulho, de ódio, de inveja, de cupidez, enfim, a predominância do apego por tudo o que é material.
É desses vícios que a Terra deve ser purgada, pelo distanciamento daqueles que se recusam a melhorar, porque são incompatíveis com o reino da fraternidade e fazem sofrer os homens de bem. A Terra se libertará deles e os homens caminharão sem entraves para o futuro melhor que lhes está reservado aqui mesmo, como recompensa de seus esforços e de sua perseverança, esperando que uma depuração ainda mais completa lhes abra a entrada de mundos superiores.
Por essa emigração de Espíritos, não se espere que todos os Espíritos retardatários sejam expulsos da Terra e relegados a mundos inferiores. Muitos cederam à prática das circunstâncias e dos exemplos, sua aparência era pior que seu conteúdo. Uma vez retirados da influência da matéria e dos preconceitos do mundo corporal, a maioria verá as coisas de um modo bem diferente do que lhes parecia em vida, como vocês já viram vários exemplos. Nesse processo, serão ajudados por Espíritos benevolentes, que se interessam por eles e se apressam a esclarecê-los e a mostrar-lhes o falso caminho que seguiram. Com suas preces e exortações vocês mesmos podem contribuir para a melhora deles, porque existe solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos.
Assim, esses Espíritos poderão voltar e ficarão felizes por isso, porque essa volta será uma recompensa. Não importa o que foram nem o que fizeram, se estiverem animados por melhores sentimentos! Longe de serem hostis à sociedade e ao progresso, serão auxiliares úteis, porque pertencerão à nova geração.
Só haverá exclusão definitiva para aqueles Espíritos essencialmente rebeldes, para aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a ignorância, tornam surdos à voz do bem e da razão. Mas mesmo estes não estão condenados a uma inferioridade perpétua e virá um dia em que repudiarão seu passado e abrirão os olhos para a luz. Orem, então, por esses endurecidos, para que melhorem enquanto ainda há tempo, porque se aproxima o dia da expiação.
Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá em sua cegueira e sua resistência marcará, por terríveis lutas, o fim de seu reinado. Extraviados, correrão para a própria perda, atingirão a destruição que produzirá muitos flagelos e calamidades, de forma que, sem saber, apressarão o advento da era da renovação.
E, como se a destruição não caminhasse suficientemente rápida, se verá os suicídios se multiplicarem em uma proporção inédita, até entre as crianças. A loucura atingirá como nunca um número muito grande de homens que, mesmo antes da morte, estarão eliminados do mundo dos vivos. Esses são os verdadeiros sinais dos tempos. E tudo se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como dissemos, sem que nada transgrida as leis da Natureza.
Entretanto, através da nuvem sombria que os cerca, no meio da qual ruge a tempestade, vocês já veem apontarem os primeiros raios da nova era! A fraternidade lança seus fundamentos a todos os pontos do globo e os povos se estendem as mãos. A barbárie se familiariza em contato com a civilização. Os preconceitos de etnias¹ e de seitas, que fizeram jorrar ondas de sangue, se vão extinguindo. O fanatismo, a intolerância, perdem terreno, enquanto que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito. As ideias fermentam em toda parte. Enxerga-se o mal e procura-se o remédio, mas muitos caminham sem direção e perdem-se em utopias. O mundo está em um imenso trabalho de gestação, que dura cerca de um século. Nesse trabalho, ainda confuso, vê-se, entretanto, dominar uma tendência para certo objetivo: o da unidade e da uniformidade, que predispõem à fraternização.
São ainda sinais dos tempos, mas enquanto os outros estão na agonia do passado, estes últimos são os primeiros choros da criança que nasce, os precursores da aurora que se verá levantar no próximo século, porque então a nova geração estará em plena força. Tanto quanto a fisionomia do século XIX difere da do século XVIII, em certos pontos de vista a fisionomia do século XX será diferente da do século XIX.
Uma das características da nova geração será a fé inata. Não a fé exclusiva e cega, que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortalece, que os une e os junta em um sentimento comum de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue, desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.
O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque derruba seus dois maiores obstáculos: a incredulidade e o fanatismo. Proporciona uma fé sólida e esclarecida, desenvolve todos os sentimentos e ideias que correspondem aos ideais da nova geração. Por isso, é inato e em estado de intuição no coração de seus representantes. A nova era o verá crescer e prosperar, pela força das coisas. Ele se tornará a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.
Mas, até lá, haverá muitas lutas ainda contra seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que, coisa estranha, se dão as mãos para combatê-lo. Pressentem o futuro do Espiritismo e a ruína deles, por isso o temem, porque já o veem plantar sobre as ruínas do velho mundo egoísta a bandeira que deve aproximar todos os povos. Leem sua própria condenação, na máxima: fora da caridade não há salvação, porque é esse o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Essa máxima se lhes apresenta como as palavras fatais do festim de Baltazar² No entanto, deveriam bendizer essa máxima, porque os garante contra todas as represálias, por parte dos que eles perseguem. Mas não: uma força cega os leva a rejeitar a única coisa que poderia salvá-los!
Que poder terão contra a ascendência da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, não duvidem, porque está nas leis da Natureza e por isso mesmo é imperecível. Vejam a multiplicidade de meios pelos quais a ideia se espalha e penetra em toda parte. Acreditem que esses meios não são casuais, mas providenciais. Aquilo que, num primeiro momento, pareceria prejudicial é exatamente o que ajuda sua propagação.
Logo surgirão, entre os mais consideráveis e os mais acreditados, defensores da causa que se declararão abertamente, que apoiarão, com a autoridade de seu nome e de seu exemplo, impondo silêncio aos detratores, porque ninguém ousará tratá-los como loucos. Esses homens o estudam em silêncio e se mostrarão quando chegar o momento propício. Até lá, é importante que eles se mantenham a distância.
Vocês verão, em breve, as artes buscarem o Espiritismo como uma mina fecunda e traduzirem as ideias e os horizontes que ele descortina pela pintura, pela música, pela poesia e pela literatura. Foi-lhes dito que um dia haveria a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã, e é uma grande verdade, porque os maiores gênios se inspirarão na Doutrina. Logo, vocês verão os primeiros esboços e mais tarde chegarão à categoria que devem ter.
Espíritas, o futuro é de vocês e de todos os homens de coração e devotados. Não tenham medo dos obstáculos, porque não existe nenhum que possa entravar os desígnios da Providência. Trabalhem sem descanso e agradeçam a Deus por tê-los colocados na vanguarda da nova falange. É um posto de honra, que vocês mesmo pediram e do qual é preciso tornar-se digno pela coragem, perseverança e devotamento.
Felizes aqueles que sucumbirem nessa luta contra a força, mas a vergonha será, no mundo dos Espíritos, para aqueles que sucumbirem por fraqueza ou falta de energia. As lutas são necessárias para fortificar a alma. O contato do mal faz apreciar melhor as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se deixaria levar a uma indolência nociva e sem avanço. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência e contra o mal desenvolvem as forças morais.
27 de abril de 1866. (Paris ? casa do Sr. Leymarie ? médium, Sr. L...)
(1) Ver Nota Explicativa no fim deste volume, página 355.
(2) Nota da tradução: Festim da Baltazar, referido em Daniel, capítulo 50, versículos 25 e seguintes.
Autor: Allan Kardec
Fonte: Obras Póstumas